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LUTO


O luto é um processo mental destinado à instalação de uma perda significativa na mente. Segundo Kaplan (1997), o luto sem complicações é visto como uma resposta normal em vista da previsibilidade de seus sintomas e seu curso. O luto inicial manifesta-se freqüentemente por um estado de choque, podendo ser expresso como um sentimento de topor e de completo atordoamento. A parte perceptível deste processo se caracteriza, inicialmente, pela repetida rememoração da perda sempre acompanhada do sentimento de tristeza e de choro, após o que a pessoa acaba se consolando. Evoluindo,o processo passa a ser de rememoração de cenas agradáveis e desagradáveis, nem sempre seguidas de tristeza e choro, mas sempre com a consolação final. Kaplan (1997), segue comentando que é um processo sempre lento, longo e acompanhado de graus variáveis de falta de interesse pelo mundo exterior (tristeza), que vão diminuindo conforme o processo avança. O processo vai gradualmente se extinguindo com desaparecimento da tristeza, do choro e instalação da consolação e volta do interesse pelo mundo exterior. No final, a pessoa perdida passa a ser apenas uma lembrança, o sentimento de tristeza desaparece e a vida afetiva retoma seu curso voltando a ser possível novas ligações afetivas.

Sobre meu avô


- Ele cheirava bem um perfume amadeirado e doce;
- Ele adorava camisa vermelha;
- Ele gostava de ouvir "Pájaro Campana" nos domingos pela manhã;
- Ele tinha lindos olhos verdes;
- Ele usava sandalias brancas;
- Ele tinha um fusca azul 1969 original e cuidava bem dele;
- Ele era palmerense em sampa e flamenguista no rio;
- Ele assistia horas de documentários;
- Ele adorava fazer palavras cruzadas na rede;
- Ele foi vereador porque queria ajudar as pessoas;
- Ele amava os animais, todos eles;
- Ele comia muito pouco;
- Ele adorava Black Label;
- Ele dormia sempre depois do almoço;
- Ele nunca entendeu o rock e odiava o Roberto Carlos;
- Ele foi o homem mais honesto que eu conheci na vida;
- Ele jantava sempre as 8:30 da noite;
- Ele usava um anel no dedo com um grande R;
- Ele odiava o PT;
- Ele lia Pablo Nerudo pra me explicar sobre o amor;
- Ele tinha medo que todas as tragedias de sampa estivessem perto de mim;
- Ele foi o primeiro homem que me amou....

E o primeiro que eu amei....ele me salvou e eu o salvei.

Vá em paz..

Narrativa

O que fazer quando a morfina não tira a dor?

Os hospitais nos fazem sentir impotentes, não há tempo suficiente para dizer adeus porque a visita é limitada em duas horas....como se despedir de uma vida toda em duas horas?

Se a morte é tão natural porque ela nos choca?

Porque a familia se atrapalha toda em um momento que só nos pede abraços e carinhos?

Hoje eu narrei os dois tempos de flamengo x cotinthias, enquanto ele sentia dores eu me sentei em um banquinho ao lado da cama, segurei na mão dele, e narrei lance a lance...assim que eu comecei ele desligou a dor e se ligou na minha voz.....hoje eu fiz pra ele o que ele fez a vida toda: narrei

Pelo tempo do futebol a dor ficou impedida de fazer alguma jogada....Eu fiquei meio chateada com quem entrava no quarto chorando, ele não precisa de lágrimas, ele precisa de amor e de alguma narração sobre o que lhe dá prazer...

A vida segue, eu estou me despedindo da forma que meu coração me guia, amanhã sigo narrando coisas boas pra ele....minha voz deixou ele mais calmo, assim como a voz dele acalantou meu berço, a minha irá acalentar seu leito de morte, até quando eu puder.